Pensamento da Noite
"Nada há de permanente,exceto a mudança".
Heráclito, 450 a.C.
Vagas impressões do cotidiano visto do alto da serra de Petrópolis entre uma baforada de charuto e um gole de um bom vinho do Porto. Ao fundo, o som pungente de uma guitarra tocando blues...
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- Para mim chega. Não vou mais perder o meu tempo - desabafou.
O senador afirmou que o presidente da República "foi conivente com um dos maiores escândalos de corrupção e está a caminho da reeleição, talvez no primeiro turno, porque os eleitores votam nele sabendo que ele sabia de tudo". Ele acrescentou que a crise ética não se dá apenas na política.
- Dizem que não se deve falar mal do povo, mas eu falo, porque sabem de tudo e compactuam. E não é só do povão não. Temos intelectuais e artistas apoiando isso - lamentou.
Jefferson Péres disse que as eleições deste ano serão as mais decepcionantes de sua vida e classificou como "episódio deplorável" o encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com artistas no apartamento do ministro da Cultura, Gilberto Gil, no Rio de Janeiro. Ele disse que declarações dadas por artistas naquele encontro, apoiando a falta de ética do governo petista, foram "cínicas e desavergonhadas".
- O presidente Lula pode ser reeleito. Eu me curvo à vontade popular, mas não me conformo. Cumpro até o fim o mandato que o povo do Amazonas me concedeu e saio da vida pública. Vou continuar protestando, mas não volto a um Congresso Nacional que tem uma maioria medíocre. Nunca vi nível intelectual e moral tão baixo - concluiu.Impressão de Paulo C Moreira Petrópolis 30.8.06 0 vagas impressões
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O sociólogo Peter Berger escreveu um livrinho delicioso: "Introdução à Sociologia".
Um dos seus capítulos tem um título estranho:
"Como trapacear e manter-se ético, ao mesmo tempo".
Estranho à primeira vista. Mas logo se percebe que, na política, é de suma importância juntar ética e trapaça.
Para explicar vou contar uma história:
Havia numa cidade dos Estados Unidos uma igreja baptista. Os baptistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso nos seus princípios éticos.
Havia na mesma cidade uma fábrica de cerveja que, para a igreja baptista, era a vanguarda de Satanás. O pastor não poupava a fábrica de cerveja nas suas pregações.
Aconteceu, entretanto, que, por razões pouco esclarecidas, a fábrica de cerveja fez uma doação de 500 mil dólares para a dita igreja. Foi um auê. Os membros mais ortodoxos da igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo e que não poderia ser aceito. Mas, passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro poderia trazer: uma pintura nova para a igreja, um órgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas. Reuniu-se então a igreja em assembleia para a decisão democrática. Depois de muita discussão registrou-se a seguinte decisão no livro de atas:
"A Igreja Baptista Betel resolve aceitar a oferta de 500 mil dólares feita pela Cervejaria na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que o seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus!" .
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Abaixo as notas de degustação do Master Blender:
Olfato: Harmonioso e perfeitamente balanceado; toques de defumado e o verdadeiro caráter profundo do xerez, com toques de uvas secas e nozes tostadas.
Paladar: Extremamente saboroso e com um rico turfado, profundamente defumado e com traços picantes. Desenvolve-se em intensos aromas de carvalho, chocolate puro e um rico bolo caseiro Dundee (tradicional bolo escocês). Característico da destilaria Cardow, Benrinnes e outros maltes Speyside se combinam para oferecer um rico sabor de xerez e carvalho. Royal Lochnagar da pequena destilaria Highland, dá uma rica doçura com toques de frescor. Grãos maduros dão a característica de carvalho e baunilha enquanto o CaolIla traz o profundo, pungente picante e defumado.
Final: Bem balanceado, longo e intenso, com toques de defumado, algas da costa e magníficos carvalhos.
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Coceira na mão:
Se a palma da mão coçar, é sinal que vem vindo dinheiro. Mas se a palma da mão direita é que estiver coçando, uma visita desconhecida está para aparecer. Coceira na sola do pé significa viagem ao exterior.
Elefantes:
Ter um elefante de enfeite, sobre um móvel qualquer, sempre com a tromba erguida mas de costas para a porta de entrada, evita a faltade dinheiro. Outra figura que garante carteira cheia é o Buda. Ele deve ficar em cima da geladeira, sobre um prato cheio de moedas.
Orelha quente:
Se sua orelha esquentar de repente, é porque alguém está falando mal de você. Nesses casos, vá dizendo o nome dos suspeitos até a orelha parar de arder. Para aumentar a eficiência do contra-ataque, morda o dedo mínimo da mão esquerda: o sujeito irá morder a própria língua.
Objetos perdidos:
A maneira mais eficiente de encontrar algo que desapareceu é dar tres pulinhos para São Longuinho.
Gato preto:
Na idade média, acreditava-se que os gatos eram bruxas transformadas em animais. Por isso a tradição diz que cruzar com gato preto é azar na certa. Os místicos, no entanto, têm outra versão. Quando um gato preto entra em casa é sinal de dinheiro chegando.
Espelho quebrado:
Quebrou um espelho? A superstição prega que serão sete anos de má sorte. Ficar se admirando num espelho quebrado é ainda pior. Significa quebrar a própria alma. Ninguém deve se olhar tambem num espelho à luz de velas. Não permita ainda que outra pessoa se olhe no espelho ao mesmo tempo que você.
Guarda-chuva:
Dentro de casa, o guarda-chuva deve ficar sempre fechadinho. Segundo uma tradição, abri-lo dentro de casa traz infortúnios e problemas aos familiares.
Aranhas:
Aranhas, grilos e lagartixas representam boa sorte para o lar. Matar uma aranha pode causar infelicidade no amor.
Brinde:
Se o seu copo contiver algum tipo de bebida alcoólica, não brinde com ninguém cujo copo contenha bebida sem álcool. Vocês estarão se arriscando, nesse tintim, a ter seus desejos invertidos.
Vassoura:
Colocar uma vassoura com o cabo para baixo atrás da porta faz as visitas indesejáveis irem embora logo. A vassoura deve ser guardada na posição vertical para evitar desgraças. Crianças que montarem em vassouras serão infelizes. Mais uma: varrer a casa à noite expulsa a tranqüilidade
Velas, lâmpadas e cigarros:
Três velas ou três lâmpadas acessas num mesmo quarto podem ser prenúncio de morte. Acender três cigarros com um mesmo palito de fósforo também significa perigo. Trata-se de uma tradição de guerra. O primeiro cigarro aceso mostra o alvo ao inimigo, que mira no segundo e atira no terceiro.
Bons desejos:
Na hora de acordar, abra os dois olhos ao mesmo tempo para ver tudo com clareza e não ser enganado por ninguém.
Ao levantar, procure dar o primeiro passo com o pé direito para atrair boa sorte e felicidade.
Faça um desejo ao cortar a primeira fatia de seu bolo de aniversário.
Ponha um caroço de melancia na testa e, antes que ele caia, faça um desejo.
Jogue uma moeda numa fonte. Só faça um desejo quando a água parar de se movimentar e você enxergar o seu reflexo. Os gregos atiravam moedas em seus poços para que estes nunca secassem. Faca um desejo ao usar um sapato novo pela primeira vez.
Se você colocar a meia do avesso, não se preocupe: sinal de que uma boa notícia está para chegar.
Enquanto você estiver cruzando uma pequena ponte, prenda a respiração e faça um desejo.
Qual a diferença entre amuleto, talismã e patuá ?
O amuleto é um objeto que oferece proteção mágica, usado para afastar as más influências. Desde dentes de animais até pedras preciosas podem ser amuletos. Já o talismã, além de proteger, tem um poder mágico que favorece a realização de inúmeros desejos. O patuá, um amuleto inventado pelos índios do Brasil, ainda é usado no Nordeste. É como um saquinho, feito de pano ou couro, pendurado numa corrente. Nele se guardam orações, ervas, pedras.
Por que se bate na madeira para afugentar o azar ?
Esse costume começou há cerca de 4 mil anos entre os índios da América do Norte; eles perceberam que, apesar de sua imponência, o carvalho era a árvore mais atingida pelos raios. Concluíram, portanto, que o carvalho era a morada dos deuses na Terra. Toda vez que se sentiam culpados de alguma coisa, batiam no tronco da árvore para chamar as divindades e pedir perdão.
Desde quando a ferradura e o trevo de quatro folhas são símbolos de sorte?
A tradição manda colocar a ferradura no alto da porta, sempre com as pontas viradas para cima. Na Grécia do século IV, a ferradura era considerada um amuleto, por ser feita de ferro, metal que o povo acreditava proteger contra os males. Sua forma lembrava a lua crescente, símbolo de fertilidade e prosperidade. Já o trevo é uma planta de três folhas.A raridade de um trevo de quatro folhas é que o transformou num amuleto para os antigos druidas, que habitavam a Inglaterra por volta do ano 200 a.C. Eles acreditavam que quem possuísse um desses trevos poderia ver os demônios da floresta e ganhar alguns de seus poderes sinistros. Atualmente virou sinônimo de boa sorte.
Qual será o sexo do bebê?
Existem algumas crenças para tentar adivinhar. Pedir a futura mamãe que mostre a mão uma delas. Se ela estender com a palma para baixo, será menino. Se a palma estiver para cima, nascerá uma menina. Existe também a linguagem do ventre. Se for pontudo e saliente, sinal de que um menino está para chegar. Arredondado e crescendo para os lados? Menina à vista.
O banho-de-cheiro traz felicidade?
Um banho com ervas variadas que deve ser tomado no primeiro dia do ano, no sábado de Aleluia, na noite de São João ou no Natal para trazer a felicidade. Normalmente, sua receita tem sete ervas: arruda, alecrim, manjericão, malva-rosa, malva-branca, manjerona e vassourinha. Algumas pessoas usam também hortelã, capim-santo e raspada raiz de jurema.
Fonte: O Guia dos Curiosos, de Marcelo Duarte, editado pela Cia. Das Letras, São Paulo, 1995.
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Canivete suiço com 85?! utilidades.
Preço: US$1200,00 ( fora as despesas com alfaiate para aumentar o tamanho dos bolsos das calças)
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"Se lhe disserem que seu trabalho não é o de um profissional, lembre-se: amadores construíram a Arca de Noé e profissionais, o Titanic''.
Walter Zagari
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Não sei muito bem de onde vem, talvez do fato de nunca, como Nação, termos sofrido séria ameaça externa, (nem a nossa independência teve que ser duramente batalhada, - devemos ser dos poucos casos de independência outorgada!...), o fato é que temos uma propensão marginal a aceitar o que vem de fora como melhor do que o que é indígena.
Uma determinada camada de nossa sociedade, a dita “emergente”, principalmente, vai internando vocábulos e estilos de vida que não têm nada a ver com a nossa realidade, tranformando-os em modismos e, até pela grande ignorância que permeia boa parte da nossa população, o processo de cópia, qual pedra no lago, vai espalhando o seu uso e, relativamente pouco tempo depois, esse novo vocábulo/hábito/objeto de desejo/padrão de beleza, acaba por substituir o seu equivalente tupiniquim, quando ele existe.
É, já nem percebemos ...mas..
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"Porque razão, aos julgares os outros, pões na tua crítica o amargor dos teus próprios fracassos?
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Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Fernando Pessoa
15-1-1928
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"Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco"
George Orwell - A Revolução dos Bichos
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Devo ter acordado hoje mais indisposto do que o que é meu hábito ( talvez seja culpa deste tempo frio e chuvoso aqui de cima...), porque as costumeiras declarações do nosso apedeuta provocaram-me um asco muito maior do que o que costumam.
É cansativo ouvir sempre as mesmas baboseiras ditas com a mesma cara de pau , pretendendo de nada saber (quando lhe convém) ou , ao contrário, vendendo a idéia de que o Brasil não existia antes dele , qual Lulla Allvares Cabrall.
Cansei!
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