quinta-feira, outubro 04, 2007

Fabricantes de racismo

Rita de Cássia Camisolão, coordenadora do "Programa de Educação Anti-Racista" da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que utilizará pela primeira vez um sistema de cotas no seu vestibular, reuniu-se há pouco com estudantes de escolas públicas para prestar esclarecimentos sobre as regras do sistema. Confrontada com a questão de saber como devem proceder os jovens com "fenótipo pardo", mas certidões de nascimento que os identificam como "brancos", fulminou: "O documento comprovatório da opção do cotista é a autodeclaração, não a certidão. O que importa é a aparência."

Está claro? Mais ou menos, pois nada é o que parece quando se trata de atribuir rótulos raciais às pessoas. Na Universidade de Brasília (UnB), também é a "aparência" que importa - mas uma aparência interpretada por sábios acadêmicos e militantes de movimentos negros, congregados em tribunais raciais que até há pouco se dedicavam à análise de fotografias dos candidatos, mas agora preferem apenas submetê-los a "entrevistas identitárias". Na UFRGS, ao contrário, a aparência do candidato é definida pelo próprio candidato, o que implica uma "fluidez racial" muito maior: "negros" da UFRGS podem bem ser "brancos" da UnB.
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Produzir a bipartição racial da nação - essa é a função das cotas raciais nas universidades. Seus promotores a ocultam sob o pretexto de promoção da inclusão social, um objetivo que figura quase como consenso nacional, mas não têm nenhum interesse em políticas de qualificação do ensino público e repudiam as medidas transitórias adotadas por universidades que oferecem oportunidades especiais para candidatos provenientes de escolas públicas, sem distinção de cor.

Na UnB, dínamo principal da fábrica das raças, o sentido das coisas é cada vez mais evidente. Diante da desmoralização do método fotográfico de certificação racial, a Reitoria decidiu investir todas as fichas nas entrevistas. O método equivale a um tribunal racial político e psicológico. A comissão de entrevistadores se compõe de professores e representantes de ONGs do movimento negro. As perguntas abrangem temas como a percepção de discriminação do candidato, sua atitude diante da questão racial e suas relações com o movimento negro. A "negritude" passa a ser definida pelo potencial de alinhamento ideológico do jovem estudante com o programa racialista dos donos das chaves de entrada na universidade. (Mas, claro, nem tudo é perfeito e os cursinhos saberão preparar os candidatos para oferecerem respostas "certas" aos comissários raciais.)
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