domingo, outubro 07, 2007

O "Perfeito Idiota Latinoamericano"

G1 – Há algo a ser celebrado pelos 40 anos da morte de Che?
Alvaro Vargas Llosa –
Não há motivo para comemorar nada. O mito de Che Guevara é construído em várias presunções e suposições com pouquíssima relação com a realidade. Ele é visto, especialmente pelos jovens, como uma figura romântica, que morreu por seus ideais, vítima de um governo autoritário, que devotou sua vida à luta por justiça social.

A realidade é que ele incorporou o pior na tradição da violência política na América Latina e acabou contribuindo para o subdesenvolvimento do continente, tanto em termos políticos quanto econômicos. Até mesmo sua contribuição na Revolução Cubana foi desastrosa, já que ele era responsável pelo Banco Central e depois pelo ministério da Indústria e, em ambos os casos, ajudou a destruir uma economia que, na época, era a terceira maior da América Latina.

G1 – Ele é visto politicamente ora como um libertador do continente, ora como um assassino. Existe embasamento para assumir alguma dessas visões?
Vargas Llosa –
A afirmação de ele ser um assassino não é uma questão de opinião, mas de fato. Tanto antes da Revolução, em Sierra Maestra, quanto após a conquista de Cuba, Che Guevara participou pessoalmente de várias execuções, e isso está muito bem documentado. Particularmente, apontaria a época em que ele era chefe da fortaleza de La Cabaña, usada como prisão, em Havana. Ele foi responsável por esta prisão por seis meses em 1959, e neste período aconteceu a maior parte das execuções em Cuba. Ele era o presidente da banca judicial de fazia as decisões finais sobre as execuções. Estou falando em centenas de mortes, muito bem documentadas e com a participação dele.

Isso não é algo que ele negasse. Pelo contrário, ele defendia essas ações com o argumento de que a justiça revolucionária deveria seguir um código draconiano, drástico, como única forma de eliminar a possibilidade de contra-revolução. Ele se orgulhava de participar do que chamava de “limpeza” de Cuba. Não há questão de que ele estava envolvido em execuções por motivos políticos, o que só pode ser considerado assassinato.


G1 – O principal biógrafo dele, Jon Lee Anderson, defende essas ações como atos de guerra. O sr. concorda?
Vargas Llosa –
Se aceitarmos este argumento, vamos ter que aceitar que as vítimas de Pinochet também foram vítimas de guerra. O argumento da guerra serve para legitimar a violência da ditadura argentina, quando cerca de 30 mil pessoas desapareceram. Não sei de nenhuma ditadura, de direita ou de esquerda, que não tenha usado o argumento de estar em guerra como desculpa para eliminar seus inimigos políticos.


Leia a entrevista completa: G1

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