domingo, setembro 10, 2006

Semeando Lulas e colhendo tempestades

Veio à baila com muita força, até porque trazido por duas personalidades proeminentes do cenário político nacional, e com coloração política bastante distinta, um intenso questionamento sobre a (falta de) ética não só dos políticos governistas, sobretudo do candidato/presidente, mas também da população, que tem manifestado em pesquisas eleitorais a intenção de os reeleger.
O Senador Jefferson Peres, em discurso no Senado, ao anunciar que abandonará a vida pública ao final do mandato, afirma textualmente:
...que o presidente da República "foi conivente com um dos maiores escândalos de corrupção e está a caminho da reeleição, talvez no primeiro turno, porque os eleitores votam nele sabendo que ele sabia de tudo".
E acrescenta:
"...que a crise ética não se dá apenas na política.
- Dizem que não se deve falar mal do povo, mas eu falo, porque sabem de tudo e compactuam. E não é só do povão não. Temos intelectuais e artistas apoiando isso"

O ex-presidente Fernando Henrique, em artigo publicado no Correio Braziliense de dia 4 pp, afirma:
... "Como é possível que, diante de tanto descalabro moral, as pessoas votem em consolidar uma situação governamental cujos pecados são expostos sem remorso e até mesmo com júbilo pelos que se consideram vitoriosos de antemão? Não é o próprio presidente quem diz que, afinal, tudo no mundo da política é mesmo sujeira e, portanto, de pouco valem as distinções entre bons e maus? Não foi de longe, de Paris, que, logo no início das denúncias de corrupção, o presidente, instruído por advogados, disse que todos fazem caixa 2, "coisa normal", misturando assim o crime de corrupção dos mensaleiros que receberam dinheiro vindo do Tesouro, por intermédio de cumplicidades administrativas e políticas, para comprar votos no Congresso com o delito dos candidatos que não declaram recursos provindos do caixa 2 das empresas?
Por que estranhar que alguns artistas ou intelectuais tenham introjetado tudo isso e, à guisa de esconderem a própria falência moral (e também intelectual), proclamem que a eficácia na obtenção dos resultados suplanta a norma moral, deixando Maquiavel corado quando se pretende que foi dele que retiraram tal barbaridade? ..."
Ora bem, é incontestável que o episódio dos mensaleiros está mais do que provado.
É evidente, também, que é impossível que Lula - O Apedeuta não soubesse de toda a tramóia (ainda recentemente, ao ser perguntado porque não estava mais usando o vermelho característico do PT nas propagandas eleitorais, respondeu "O vermelho sou eu! Existe alguém com mais cara de PT do que eu"?). Mesmo que, ao contrário do que diversos interlocutores afirmam, ninguém o tenha avisado, os fatos se passavam no gabinete ao lado do dele, com a interveniência das pessoas de sua inteira confiança! Como nos romances policiais, basta responder à pergunta: A quem aproveitou o crime?
É irretorquível que, com toda a publicidade que foi dada ao assunto durante meses, nas TVs, nas rádios, nos jornais, nas revistas e na internet, é impossível que haja alguém neste país que não tenha sido alcançado pelas notícias.
Então, a pergunta que os dois fazem, basicamente é: se isto é assim, como é possível que, de acordo com as pesquisa eleitorais, a maioria da população ainda vá votar nesses senhores?

Os partidários de Geraldo Alkmin, por outro, debatem se o candidato deve ou não "bater" mais forte na ligação Lula-Mensaleiros, para provar que ele é o grande comandante de todo o assalto aos cofres públicos.
Ora, é claro que não é necessário provar mais nada, por uma razão muito simples: A população toda sabe que o Lula está envolvido nessa patifaria , mas, mesmo assim, boa parte vai votar nele.

Então a grande questão que se põe, ou que se deveria pôr, por mais grave, não é se o Lula vai ganhar ou não as eleições, mas sim a que nível de transigência moral chegou a maioria da população brasileira e porquê?

Os sociólogos do momento, vêm com a explicação de que, como as pesquisas revelam que o maior contingente dos eleitores de Lula pertence ao extrato sócio-econômico mais baixo da população, seriam pessoas menos informadas, e, portanto mais propícias a aceitar o discurso e a prática populista do Lula, que as agraciou com a "Bolsa-família".
Falso! É verdade que o grosso dos eleitores de Lula é das classes mais pobres e menos instruídas, mas, me desculpem, imoral é a pobreza, não o pobre! Não ter dinheiro não é sinônimo, nem explicação, para a falta de moral e de princípios éticos (assim como a recíproca também vale).

É óbvio que não tenho a resposta, mas algumas pistas (olha o romance policial aí de novo) são bastante evidentes, e todas apontam para a..."elite" brasileira.
Ela mesma, que se descabela toda (quasi toda, os banqueiros estão bem felizes com o Apedeuta no poder, vidé os balanços dos últimos anos) com a provável derrota de seus candidatos.

A "elite" que deixou por séculos a população na mais absoluta ignorância, com escolas públicas de péssima qualidade, quando as há!
A "elite" que sempre usou da troca de votos por sacos de cimento em seus currais eleitorais!
A "elite" que sempre negou à população carente acesso a planejamento familiar!
A "elite" que instituiu essa vergonhosa impunidade inter pares, em que quem pode pagar um bom advogado não vai para a cadeia!
A "elite" que passou a julgar todo mundo pelo que tem e não pelo que é!
A "elite" que estimula o consumismo desenfreado que assola o País! Que tem como paradigma Miami, e como grande desilusão a de que o Brasil não seja uma estrela na bandeira dos EEUU!
A "elite" grande consumidora de drogas que alimenta a roda do tráfico e do crime!
A "elite" criadora do célebre "Sabe com quem está falando". Da carteirada! Do troco para o guarda "livrar a multa"!
A "elite" que estimulou o inchaço das grandes cidades, transformando-as em cidadelas ilhadas no meio de grandes favelas que se formaram à sua volta, com condições sub-humanas de habitação, quando precisou de mão de obra barata !
A "elite" que permitiu o aumento boçal do tamanho do Estado, com o exponencial aumento dos impostos, diminuindo com isso o investimento privado e a geração de empregos, e impedindo a chance de haver bons salários!
A "elite" que cunhou a definição para negociata: "Um grande negócio para o qual não fui convidado"!
A "elite" das empresas mal administradas que, quando davam lucro ele ia para o bolso do dono, quando dava prejuízo, batia-se à porta do BNDES, que sempre dava um jeito de socializar os prejuízos!
A "elite" que instituiu a lei de Gérson! O jeitinho brasileiro!
A "elite" que produz novelas em que situações absolutamente imorais são expostas para dar Ibope e vender anúncios!
A "elite" campeã dos desquites e divórcios, desagregadores da Família!
Não foram dessa "elite" mesquinha e tacanha todos os belíssimos exemplos dados acima, e muitos outros que poderia elencar?

E com esses exemplo queriam o quê? Que a "população" se mantivesse, olimpicamente, como fiel depositária da moral kantiana? É de estranhar, assim, que a "população" ache que o Lula é igual aos outros, e portanto ladrão por ladrão, fiquemos com o que é conhecido? Com o que é "um dos nossos que chegou lá"? Com o que me dá o Bolsa Família ?
Pode ser, que os dedos que vão apertar as teclas que vão votar no Lula e seus mensaleiros e sanguessugas não sejam os dela, mas que quem vai elegê-los é sem dúvida a "elite" com o seu comportamento imoral ao longo de décadas, ai isso é!

Então, meus caros, ou mudamos nós, e, passando a dar o exemplo (mesmo, e sobretudo, nas pequena coisas do dia a dia,no trabalho,em casa, na vida social, escolhendo com cuidado os nossos representantes, e cobrando-os permanentemente) reconstituímos, aos poucos, o tecido moral desta Nação, ou, então, vamos continuar semeando Lulas e colhendo tempestades!

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