terça-feira, maio 22, 2007

Ninguém leva a mal

Quadrilha

E neste ano, como todo ano, uma vez por ano
Tem quadrilha no arraial
E neste ano, como sempre, salvo chuva e salvo engano
A satisfação é geral
Não me leve a mal
Não me leve a mal

O forró corria manso, sem problema e sem vexame
Quando o chefe da quadrilha decretou changer de dame
A mulher do delegado rendeu o bacharel
O peão laçou a jovem filha do coronel
A Terezinha Crediário deu um passo com o vigário
A beata com o sacristão
Diz que a senhora do prefeito
Merecidamente eleito
Foi com o líder da oposição
Não tem nada não
Não tem nada não

Zé-com-fome deitou olho na patroa do ``seu'' Lima
Que não faz xodó na moça mas também não sai de cima
Juca largou a sanfona e, abandonando o salão
Foi prevaricar com a dona que vendia quentão
E foi doente com doutora, indigente e protetora
Foi aluna com professor
E o perigoso bandoleiro, Zé Durango ``El Justicero''
Fez beicinho pro promotor
Mas, faça o favor!
Mas, faça o favor!

O forró estereofônico estava mesmo um barato
Muita música na praça e muita dança lá no mato
Quem gozou da brincadeiram, muito bom, muito bem
Quem tomou chá de cadeira, só no ano que vem
Pois nesse ano, como todo ano, uma vez por ano
Tem quadrilha no arraial
E nesse ano, como sempre, salvo chuva e salvo engano
A satisfação é geral
Ninguém leva a mal
Ninguém leva a mal.

Chico Buarque


No arraial, pelo menos, era só uma vez por ano...

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, e lá a satisfação é geral, ninguém leva a mal.
Já por aqui, não estamos todos satisfeitos...

Paulo C Moreira disse...

O problema é que a maioria está! Ou se não está age como tal.
A população está anestesiada por tantas e tão seguidas noticias de falcatruas,que já perdeu a qualidade de se escandalizar e ir para a as ruas exigir que se restabeleça a moralidade

Anónimo disse...

Será que já perdeu, ou nunca a teve?
Desde que eu me entendo por gente (ou seja, depois do restabelecimento da "democracia"), o povo só foi às ruas em massa reinvidicar algo diferente de aumento de salário ou benefícios de categoria pra cassar o Caçador de Marajás. Ninguém tem espírito de coletividade, as pessoas daqui seguem líderes, "heróis". E o problema acontece quando as "lideranças intelectuais" estão entorpecidas...

Paulo C Moreira disse...

É faz um certo sentido! É um povo que espera a "outorga" ao invés de partir para a conquista