sábado, fevereiro 10, 2007

Gostei de ler

Com ou sem terceiro mandato de Lula, a direção que o comando do PT tomar a partir de agora é crucial para o Brasil. Nas diretrizes traçadas pelo partido pode estar a bússola política do governo nos próximos anos.

Democracia direta, decisões plebiscitárias, “democratização” dos meios de comunicação, chavismo? Essas e outras teses estão na ordem do dia, e o aniversário de 27 anos do PT começa a definir quem é que vai apertar (ou não) esses gatilhos.

Depois do mensalão e de todas as delubianas, o mocinho do partido chama-se Tarso Genro. Com seu perfil de político moderado e reserva intelectual, o ministro gaúcho faz sucesso com sua tese de “refundação do PT”, um eufemismo para tirar as rédeas do grupo paulista de José Dirceu. Na já famosa “Mensagem ao partido”, Tarso faz uma espécie de receituário da virtude – o que, com a folha corrida de Dirceu e sua turma, é carapuça fácil.

De fato, não há vilão tão perfeito quanto José Dirceu. Trata-se de um pecador infalível. Como dizia o jornalista Jorge Bastos Moreno bem antes do mensalão, Zé era o veneno antimonotonia do governo Lula. Toda notícia que não brotava do resto do governo jorrava do então superministro – por tudo que fazia e depois desfazia para refazer, por tudo que era e mais ainda pelo que pensava ser. É fácil ser candidato a virtuoso ao lado de Dirceu.

O problema é que Tarso Genro não é esse virtuoso. A rigor, Tarso Genro não é nada. E esses são os mais perigosos.

Na tal Mensagem ao partido, Tarso diz que há no PT “uma crise de corrupção ética e programática”. Deve vir desse estilo Madame Natascha sua reputação de intelectual. Essa crise, segundo ele, provém de “um modo de construção eleitoralista” e pelo distanciamento “do mundo do trabalho e da utopia socialista”. É preciso construir “um novo campo político” dentro do PT.

Isto é Tarso Genro. O nada com cobertura de marshmellow verbal. Mas enquanto as taras de Dirceu são mais ou menos conhecidas e previsíveis, as taras de Tarso são dissimuladas e, por isso, potencialmente mais embaraçosas.

Constrói-se em torno de Tarso uma lenda de “contraponto democrático” ao autoritário Dirceu. Pura lenda. Dirceu dá canelada na mídia, tem mania de perseguição e acredita naquele expediente de “falar por cima” com os veículos de comunicação. Tarso Genro assopra em público, mas morde feio nos bastidores. Fica construindo teses sobre conspiração da mídia burguesa contra o governo popular e montando planos arrepiantes de controle da prática jornalística.

O “moderado” Tarso é aquele que como ministro de Estado, em plena campanha eleitoral, acusa o candidato adversário de fazer pacto com os criminosos do PCC. Depois de ateado o fogo, retira o que disse. Santa moderação. Santa coerência. Ato contínuo à reeleição de Lula, faz discursos conciliadores de ampla concertação política e escreve panfletos do tipo “eles contra nós”, afirmando que o país está dividido entre ricos e pobres.

Como autoridade, Tarso Genro se especializou no estilo camaleão. Cansou de acender vela para a responsabilidade fiscal e a política econômica, ao mesmo tempo em que lançava intrigas contra o Banco Central e a “era Palocci” – cujo fim chegou a decretar ruidosamente, sendo depois desautorizado por Lula. Um espírito público, por assim dizer, de fundo de quintal.

Numa compilação de declarações de Tarso Genro, pode-se escolher o desenvolvimentista ou o fiscalista, o conciliador ou o incendiário, o arauto da liberdade de expressão ou o ideólogo do controle estatal da mídia.

José Dirceu é um pecador de carne e osso, símbolo daquele PT paulista delubiano que bota a mão na m… sem tapar o nariz. Tarso Genro é um virtuoso etéreo, símbolo daquele PT gaúcho que faz política de proveta e acha que o país é um tubo de ensaio para suas teses revolucionárias.

Por incrível que pareça, o risco Tarso é maior do que o risco Dirceu.
Guilherme Fiuza

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