quinta-feira, janeiro 18, 2007

Gostei de ler

PARA QUE SERVEM HOMENS-CARNEIROS
17.01, 17h58
por Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga

Fiz uma pausa nos artigos. Motivos particulares me levaram a deixar de lado esse meu “vício”, o de escrever. Porém, mais do que a sobrecarga de fatos do cotidiano fiquei desestimulada a dar continuidade ao difícil e árduo exercício de alinhar por escrito, idéias, opiniões e convicções. A sensação de inutilidade tomou conta de mim e me lembrei da letra de uma música: “inúteis, nós somos inúteis”.

Afinal, para que escrever quando o eleitorado, em sua impressionante maioria, consagrou nas urnas a corrupção, a incompetência, a enganação, através da escolha de vários de seus representantes nos Poderes Executivo e Legislativo? Seria o mesmo que enviar informações a um rebanho de homens-carneiros. Essas criaturas não raciocinam e muito menos lêem. Não dá para escrever aos carneiros, ainda que assumam a forma humana. Feliz em sua ignorância, no máximo o rebanho assiste ao Big Brother Brasil enquanto se identifica com os atores da encenação na sordidez das tramas, no mau-caratismo das ações, no exibicionismo que faz do sexo ato puramente animal.

Homens-carneiros reclamam, mas não agem. Ocasionalmente resmungam. Espertíssimos em certas atitudes, como passar os outros para trás, são facilmente enganados quando se trata do pai-Estado personificado em qualquer populista. É curioso, por exemplo, que nos aeroportos onde longas horas de espera ou vôos cancelados fazem de otários os usuários do transporte aéreo, desculpas esfarrapadas dadas por autoridades sejam aceitas com a naturalidade dos que gostam de se deixar enganar. A culpa é das companhias aéreas ou de algum ato imprevisível de São Pedro. O pai-Estado não erra nunca. Não existem controladores de vôos nem suas greves. Viva o governo. Nacionalize-se a pouca vergonha. Ela é nossa.

No Congresso Nacional prossegue o espetáculo deprimente das adesões partidárias ao poder central, sem que o rebanho perceba ou se importe. Para culminar, a bancada do PSDB aderiu ao petista e candidato a presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, o redentor dos “mensaleiros” e de seu chefe, autor da promessa de dobrar o salário dos companheiros deputados. Resta saber se o abjeto gesto de submissão ao Executivo poderá mudar com a saída de Gustavo Fruet, como terceira via (Fruet deveria ter sido o candidato a governador no Paraná, mas o PSDB mais uma vez perdeu a oportunidade de se impor como oposição real) ou se os tucanos vão abandoná-lo e traí-lo como fizeram com Geraldo Alckmin.

Sempre disse e repito que a única oposição, estridente e implacável, foi a do PT que agora, na situação faz o que bem entende sob aplausos gerais. Sem oposição para valer estamos diante do partido único, disfarçado de partido dominante. Algo tão ao gosto de Hugo Chávez e de seus seguidores do socialismo primata da América Latina. Um socialismo que condenará o continente á morte por asfixia de ignorância.

Neste cenário está em marcha o retrocesso do País com seu crescimento pífio, sua violência infame e impune, sua farsa democrática. E a predição de uma Constituinte por nosso mandatário supremo, lembra os passos do “hermano” golpista da Venezuela rumo ao poder totalitário.

O que falta para nos venezuelarmos? A Imposição completa da censura aos meios de comunicação. A punição mais rigorosa a quem se opuser ao desgoverno petista. E, porque não, um terceiro, quarto, quinto, sexto mandato para o senhor Luiz Inácio que, sempre em descanso, se não está de férias, viaja, se não viaja, descansa, sabendo que tudo ruma para seu contentamento.

O Brasil está parado, descansando nas praias. O governo está parado aguardando o desfecho das barganhas congressuais. Se os ministros nunca fizeram grande coisa, agora estão completamente parados. E na paradeira geral seguem ser medo de ser felizes os revolucionários de outrora que não precisaram dar um só tiro para chegar ao poder, os socialistas de fachada que vivem como capitalistas, os democratas de mentirinha que amam as ditaduras de esquerda, os trambiqueiros de todos os partidos que tramam suas vantagens enquanto riem secretamente de seus eleitores, os homens-carneiros. Estes têm uma única e grande utilidade: servem para elegê-los.

Por conta de tudo isso me pergunto: vale a pena escrever? Talvez, esse ato inútil sirva como gesto de solidariedade para com a minoria dos brasileiros que possuem brio e dignidade. Talvez, sirva apenas como desabafo. Em todo caso, se todos se calarem será pior.

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