sábado, janeiro 06, 2007

2007 será o ano do faz de conta

O ano de 2006 chegou ao fim. Antes tarde do que nunca. E o otimismo dos brasileiros continuará sem ser medido: ele é infindável. Ainda não consigo entender de onde tiram tanta força e vontade para comemorações que, para aqueles que desconhecem a realidade do Brasil, podem parecer a descoberta do paraíso.

A meu ver, deveríamos usar toda essa energia e dinheiro gastos para exigir mudanças concretas no nosso Brasil. No entanto, ao mesmo tempo, devo conformar-me e entender que o “povo” brasileiro legitimou tudo o que aconteceu e continuará acontecendo. Foi dada a “carta branca”.

Estive no litoral gaúcho na virada do ano. Coisa linda. Recorde de público, com certeza. O “povo” estava feliz: bebendo, comendo, cantando, brincando e dormindo. Mas talvez a felicidade seja um sonho. Quem sabe um pesadelo.

A realidade é que as áreas públicas são transformadas em palcos das comemorações. E quando olhamos superficialmente tudo parece perfeito. Festa boa: música, trago e alegria. Mas se olharmos mais atentos, veremos o “povo” em ação. O “povo” joga as garrafas vazias nas calçadas e na areia da praia; queima fogos de artifício em meio à multidão sem nenhuma segurança; faz das ruas e avenidas um estacionamento, sem se preocupar com eventuais emergências; deixa fraldas sujas, certamente para adubar a areia; perde crianças de um ano e meio de idade; entre outras preciosidades. Isso em um raio de apenas 100 metros.

A minha festa na rua durou exatos 35 minutos. Foi tempo suficiente para entender as razões que levam nosso Brasil ao atraso e a escolhas questionáveis do ponto de vista ético e moral. Nós, cidadãos brasileiros, somos o “povo” do faz de conta. Faz de conta que eu não sujei. Faz de conta que irei limpar. Faz de conta que foi sem querer. Faz de conta que poderia ser pior. Faz de conta que foi bom. Faz de conta que vai melhorar.

Pois é óbvio que com um “povo” desses, a realidade política, econômica e social não poderia ser diferente. Muitos acreditam que os políticos, ministros, juízes e demais autoridades públicas devem dar o exemplo. No meu entendimento isso é apenas uma desculpa, servindo como justificativa para ações irresponsáveis.

Podem apostar: 2007 será o ano do faz de conta. Como todos os anos que se passaram. Faz de conta que não roubei. Faz de conta que me preocupo com a sociedade. Faz de conta que vamos crescer. Faz de conta que vamos estudar. Faz de conta que não sei de nada.
Timothy Halem Nery




1 comentário:

Anónimo disse...

É o que eu já disse por aqui. Com que legitimidade pode o brasileiro questionar seus representantes, se estes não passam de um espelho de nossa sociedade? Não são os representantes que têm que dar o exemplo, mas cada um de nós, a começar por nossos próprios umbigos, em questões "de pouca importância", como não sujar as nossas ruas, até as "questões maiores", como a eleição consciente dos nossos representantes e o acompanhamento de seus mandatos (outorgados por nós). Não adianta nada bradar por "justiça", "honestidade" ou os mais nobres etceteras, se cada um, assim que tem o poder para fazer a diferença trata logo de dar pernada nos outros e encher o próprio bolso ou os bolsos amigos... Eu tenho pra mim que a maior parte das manifestações de indignação que se vê por aí nada mais são do que inveja...