quinta-feira, outubro 05, 2006

Djanira

Descendente de austríacos e de índios guaranis, Djanira nasce em 1914 na cidade de Avaré-SP, mudando-se logo nos primeiros anos para Porto União-SC, onde tem uma infância de duro trabalho na lavoura. Aos 14 anos, volta para Avaré, depois segue para São Paulo, morando em quarto de pensão e trabalhando dez ou doze horas seguidas por dia, como vendedora ambulante.
Vivendo em ambiente insalubre, acabe contraindo tuberculose e é internada num anatório em S.José dos Campos. É então que começa a pintar e o milagre começa a acontecer. Djanira, a quem os médicos não davam mais que alguns meses de vida, começa a se recuperar e, no mesmo tempo estimado para sua morte, ante a surpresa de todos, estava recebendo alta, quase que completamente curada.
Djanira muda-se para o Rio de Janeiro, onde se casa com Bartolomeu Gomes Pereira, um maquinista da marinha mercante, que acaba morrendo quando o seu navio é torpedeado por um submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Aluga, então, um quarto na Pensão Mauá, no Bairro de Santa Teresa, passando a trabalhar como costureira e a sublocar vagas na pensão.
Alguns dos hóspedes são estudantes de pintura, com poucos recursos, e pintores estrangeiros, refugiados de guerra, entre o quais o romeno Emeric Marcier,e Milton Dacosta que lhe dão aulas de pintura.Também freqüenta curso noturno no Liceu de Artes e Ofícios.
Enquanto a Pensão Mauá é o reduto de estudantes e pintores pobres, num outro hotel do bairro, o H Internacional, reune-se um grupo de pintores melhor situados na vida, incluindo, Arpad Szenes e sua esposa Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa, ambos refugiados de guerra. Forma-se, assim, um núcleo de pintura e a estreante passa a receber apoio e incentivo daqueles que já possuíam nome no mercado, entre estes Lasar Segall.
Sua primeira participação em exposições se dá no Salão Nacional de Belas Artes em 1942. Seguem-se-lhe mais duas exposições coletivas, e uma individual, onde a venda de quadros lhe permite juntar algumas economias.
Em 1945, viaja para os Estados Unidos, junto de Milton Dacosta. Reside em Nova York entre 1945 e 1947 onde é influenciada pela pintura de Pieter Brueghel. Nesta mesma época, conhece Fernand Léger, Joan Miró e Marc Chagall.
Já reconhecida no mundo artístico, é um suceder de coletivas e individuais, nas quais arrebataa vários prêmios. Em 1952, um prêmio de viagem pelo Brasil dá-lhe a oportunidade de retratar, em suas telas, o cotidiano do brasileiro em suas múltiplas tarefas, assim como nas festas e práticas religiosas.
É a partir daí que surge o período mais expressivo no trabalho de Djanira, flagrando pescadores, homens rudes do campo, trabalhadores da cidade, enfim a gente simples que faz a história do país, ao mesmo tempo em que transportava para a tela, de uma forma singela, a mística do sincretismo religioso entre catolicismo e cultos afro-brasileiros.
Realiza o mural Candomblé para a residência do escritor Jorge Amado, em Salvador, e o painel para o Liceu Municipal de Petrópolis, cidade em que reside, no Bairro de Samambaia. De volta da uma viagem à União Soviética, torna-se uma das líderes do movimento pelo Salão Preto e Branco, um protesto de artistas contra os altos preços do material para pintura. Em 1963, realiza o painel de azulejos Santa Bárbara, com 160 m2, no túnel Catumbi, Rio de Janeiro.
Em 1979, com a saúde novamente debilitada, recolhe-se à Ordem Terceira do Carmo.
Djanira é, sem dúvida, a mais autenticamente brasileira de nossas pintoras, por ter interpretado de maneira singela e poética a paisagem nacional e os habitantes e costumes do país.É a grande intérprete modernista do Brasil! A artista plástica falece no dia 31 de maio de 1979.

As fotos representam os quadros :FAZENDA DE CAFÉ (1954), acima, e O CIRCO (1944)

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