Crise aérea acaba em Março
Já as crises gerencial e moral do Govêrno não demonstram ter data para acabar!
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, marcou data para o fim do apagão aéreo. Será em março, “quando se encerra o período de alta e começa o de baixa” na aviação comercial brasileira. Do que se deduz que para ele a solução da crise é as pessoas deixarem de voar. Não é uma interpretação maldosa. Afinal, o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, fez um apelo aos passageiros para que escolham vôos nos horários menos movimentados a fim de evitar os transtornos nos aeroportos neste feriado prolongado, o primeiro de uma série que irá até o Ano-Novo. Como se nos horários mortos houvesse vôos suficientes para a maioria dos destinos - o que seria uma contradição em termos, portanto. Ele ainda recomendou aos interessados que antecipassem as suas viagens para ontem e adiassem a volta para segunda-feira. Como se os viajantes não precisassem trabalhar antes dos Finados e depois do domingo.
Por onde quer que se olhe, o desmazelo no setor é um pesadelo sem hora para terminar, diga o que disser o loquaz ministro Jobim. É de desanimar: ao mesmo tempo que informa ter marcado um prazo “para mim mesmo” - o de março - para a normalização do serviço de transporte aéreo no País, ele se comporta como se algo já tivesse melhorado no setor nesses mais de três meses desde a sua nomeação. E insiste em afirmar que os problemas que afligem os passageiros são “de conforto, mas não de segurança”. Só porque ele quer. Na verdade, estamos exatamente onde estávamos quando a crise irrompeu depois da tragédia do Boeing da Gol, em setembro de 2006
Na mesma quarta-feira em que Jobim e Gaudenzi deram uma demonstração eloqüente de como Brasília enxerga e trata o Brasil real que a sustenta para servi-lo, o governo tornou a fazer das suas em matéria de acobertamento da corrupção - desta vez, na Infraero. Dominante na CPI do Apagão Aéreo no Senado, a base aliada abateu com a maior naturalidade o parecer do relator Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, que classificou o notório ex-presidente da estatal, Carlos Wilson, hoje deputado federal pelo PT, de principal responsável por pencas de ilícitos no sistema aeroportuário nacional. Prevaleceu um relatório paralelo, assinado por meia dúzia de governistas, que, literalmente, “livrou os tubarões e apanhou as sardinhas”, como observou Torres. De fato, dos seus 23 pedidos de indiciamento, 14 foram desconsiderados no desavergonhado contraparecer que a oposição se recusou a votar.
As maracutaias podem ter custado ao erário meio bilhão de reais. Não se trata de descoberta da CPI, mas de levantamento do Tribunal de Contas da União.
Leia o Editorial completo do Estadão
Sem comentários:
Enviar um comentário